
Por: Elaine costa
Resumo
Durante a perimenopausa, que pode começar muitos anos antes da última menstruação, o corpo passa por mudanças hormonais intensas, principalmente na produção de estrogênio e progesterona. Essas oscilações provocam sintomas físicos e emocionais que muitas vezes são confundidos com estresse ou cansaço.
Entre os sinais mais comuns estão a menstruação irregular, que pode vir mais forte, mais leve ou desaparecer por meses; os calorões e suores noturnos, que afetam o sono e o bem-estar; alterações no sono, como insônia e despertares frequentes; mudanças no humor e na memória, com crises de irritabilidade, ansiedade e lapsos de concentração; e um cansaço constante, que não melhora com o descanso.
Reconhecer esses sintomas é importante para buscar ajuda médica, entender o que está acontecendo com o corpo e adotar cuidados que tragam mais equilíbrio e qualidade de vida durante essa fase.

Introdução
Você acorda cansada, o sono virou um desafio, o ciclo menstrual ficou desregulado e a memória parece falhar? Esses podem ser indícios do início da transição hormonal, também conhecida como perimenopausa.
A perimenopausa é a fase que antecede a menopausa e pode começar até 14 anos antes da última menstruação. Durante esse período, os níveis de estrogênio e progesterona flutuam significativamente, levando a uma variedade de sintomas físicos e emocionais. Estudos indicam que alterações no ciclo menstrual, distúrbios do sono, mudanças de humor e problemas de memória são comuns nessa fase (Greendyke & Santoro, 2015; Joffe, 2020).
Reconhecer esses sinais precocemente é essencial para buscar orientação médica, adotar estratégias de autocuidado e garantir mais qualidade de vida. A seguir, conheça os cinco principais sinais da perimenopausa, porque eles acontecem e o que pode ser feito para atravessar essa fase com mais tranquilidade.
Tabela: Principais sintomas da perimenopausa e como diferenciar de outras causas

1. Ciclo menstrual desregulado
Se a sua menstruação está diferente atrasa, vem duas vezes no mês, aparece forte demais ou some por meses e depois reaparece, preste atenção: isso pode ser um sinal de que você entrou na perimenopausa. Não é apenas “normal da idade” ou “só estresse”. O que está por trás dessas mudanças é a oscilação hormonal natural dessa fase da vida, com os ovários produzindo menos estrogênio e progesterona (Greendyke & Santoro, 2015).
O que observar:
- Intervalos imprevisíveis entre as menstruações (21 a 60 dias ou mais)
- Mudanças no fluxo (mais leve ou mais intenso, com coágulos)
- TPM alterada: sintomas mais intensos, irritabilidade, ansiedade, confusão mental
Por que isso acontece?
O eixo hormonal hipotálamo–hipófise–ovário entra em desaceleração, a ovulação falha em alguns ciclos e o endométrio responde de forma imprevisível.
Quando procurar ajuda?
Sangramento intenso, dor forte ou ciclos muito curtos (menos de 21 dias) merecem avaliação médica para descartar outras causas, como miomas ou distúrbios da tireoide.
2. Calorões e suores noturnos
Ondas de calor repentinas e suores noturnos são sintomas clássicos da perimenopausa, afetando até 75% das mulheres (Joffe, 2020; Freeman et al., 2014). Eles surgem devido à queda de estrogênio, que desregula o “termômetro interno” do cérebro.
Como identificar:
- Ondas de calor súbitas (principalmente no rosto, pescoço e peito)
- Suores noturnos que interrompem o sono
- Calafrios após os calorões
Por que isso importa?
Além do desconforto, esses sintomas prejudicam o sono, aumentam a fadiga e podem elevar o risco cardiovascular (Thurston et al., 2017).
O que pode ajudar:
Evite cafeína, álcool e comidas apimentadas; use roupas leves e mantenha o quarto arejado; hidrate-se bem.
Quando buscar tratamento?
Se os fogachos forem frequentes ou incapacitantes, converse com sua ginecologista sobre opções como terapia hormonal, fitoterápicos ou acupuntura.
3. Alterações no sono
Você deita cansada, mas o sono não vem? Ou acorda de madrugada com a mente acelerada? Isso pode ser resultado da queda de progesterona e estrogênio, hormônios que influenciam diretamente a qualidade do sono (Zhang, Wang & Li, 2023; Baker et al., 2018).
Sintomas comuns:
- Dificuldade para adormecer
- Acordar no meio da madrugada (principalmente entre 2h e 4h)
- Sono fragmentado, sensação de não descansar
Impacto:
O sono ruim afeta humor, memória, imunidade e até peso corporal. A longo prazo, aumenta o risco de depressão, hipertensão e diabetes.
Dicas práticas:
Crie uma rotina para dormir, evite telas antes de deitar, tome chás calmantes (sem cafeína), mantenha o quarto escuro e fresco, e experimente técnicas de relaxamento.
Quando buscar ajuda:
Se o sono ruim for frequente e afetar sua qualidade de vida, procure uma médica. Existem opções hormonais, não hormonais e terapias integrativas.
4. Mudanças de humor e memória
Irritabilidade, crises de choro, ansiedade e lapsos de memória são comuns na perimenopausa. Isso ocorre porque o estrogênio interage com neurotransmissores como serotonina e dopamina, afetando diretamente o cérebro e o equilíbrio emocional (Greendale et al., 2010; Maki & Henderson, 2016).
Sintomas emocionais e cognitivos:
- Irritabilidade fora do padrão
- Crises de choro sem motivo evidente
- Ansiedade, sensação de angústia
- Falhas de memória recentes, dificuldade de concentração
- Sensação de “nevoeiro cerebral”
O que pode ajudar:
Terapia cognitivo-comportamental, grupos de apoio, acompanhamento médico, suplementação (como ômega-3, vitamina D), atividade física regular e técnicas de organização (listas, alarmes, pausas estratégicas).
Quando procurar ajuda:
Se o humor instável atrapalhar suas relações, produtividade ou autoestima, busque suporte especializado.
5. Cansaço fora do normal
O cansaço persistente, mesmo após descanso, é outro sintoma marcante da perimenopausa. A queda dos hormônios sexuais afeta a produção de energia nas células, a regulação do sono profundo e o metabolismo, além de aumentar a inflamação corporal (Santoro, 2016; Zhang, Wang & Li, 2023).
Sinais de alerta:
- Cansaço que não passa mesmo com descanso
- Falta de energia para tarefas simples
- Corpo pesado, mente lenta, dificuldade de iniciar atividades
Pode ser hora de investigar:
Além da perimenopausa, o cansaço pode indicar disfunções da tireoide, anemia, deficiência de vitamina D ou B12, glicemia alterada. Peça um check-up completo ao seu médico.
O que pode ajudar:
Alimentação rica em nutrientes, atividade física leve, exposição solar diária, rotina de sono e pequenas pausas ao longo do dia.
Checklist: 10 perguntas para levar ao médico
- Estou mesmo na perimenopausa? Como confirmar?
- Quais exames devo fazer para monitorar minha saúde?
- Preciso tratar os sintomas agora ou posso apenas observar?
- Reposição hormonal: riscos e benefícios no meu caso?
- Existem alternativas naturais para os sintomas?
- Como melhorar o sono sem remédios?
- Oscilações de humor: devo considerar terapia?
- Mudanças na libido: é comum? O que fazer?
- Cansaço e ganho de peso: pode ser menopausa?
- Com que frequência devo fazer acompanhamento médico?
Considerações finais
A perimenopausa é uma fase de grandes transformações, mas não precisa ser sinônimo de sofrimento. Informação de qualidade, acompanhamento profissional e autocuidado são aliados poderosos para atravessar esse período com saúde e bem-estar. Não aceite respostas simplistas como “é normal da idade” busque sempre orientação e tratamento individualizado.
Referências
BAKER, F. C.; DE ZAMBOTTI, M.; COLRAIN, I. M.; BEI, B. Sleep problems during the menopausal transition: prevalence, impact, and management challenges. Nature and Science of Sleep, v. 10, p. 73–95, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.2147/NSS.S125807. Acesso em: 28 maio 2025.
FREEMAN, E. W.; SAMMEL, M. D.; LIN, H.; GRACIA, C. R. Duration of menopausal hot flushes: a longitudinal study. JAMA Internal Medicine, v. 174, n. 8, p. 1307-1314, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1001/jamainternmed.2014.2063. Acesso em: 28 maio 2025.
GREENDALE, G. A. et al. Effects of the menopause transition and hormone use on cognitive performance in midlife women. Neurology, v. 72, n. 21, p. 1850-1857, 2010. Disponível em: https://doi.org/10.1212/WNL.0b013e3181a71193. Acesso em: 28 maio 2025.
GREENDYKE, J. A.; SANTORO, N. Perimenopause: From Research to Practice. Journal of Women’s Health, v. 24, n. 6, p. 464–471, 2015. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26653408/. DOI: 10.1089/jwh.2015.5556. Acesso em: 28 maio 2025.
JOFFE, H. The Menopause Transition: Signs, Symptoms, and Management. Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 105, n. 9, p. 1–9, 2020. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33095879/. DOI: 10.1210/clinem/dgaa623. Acesso em: 28 maio 2025.
MAKI, P. M.; HENDERSON, V. W. Hormone therapy, dementia, and cognition: The Women’s Health Initiative 10 years on. Climacteric, v. 19, n. 5, p. 429-436, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1080/13697137.2016.1216842. Acesso em: 28 maio 2025.
SANTORO, N. Perimenopause: From Research to Practice. Journal of Women’s Health, v. 25, n. 4, p. 332–339, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1089/jwh.2015.5556. Acesso em: 28 maio 2025.
THURSTON, R. C.; JOFFE, H.; SOARES, C. N.; NEAL-PERRY, G. Physical and psychological symptoms in the perimenopause: What do we know, what do we need to know? Climacteric, v. 20, n. 2, p. 91-98, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1080/13697137.2017.1280251. Acesso em: 28 maio 2025.
ZHANG, L.; WANG, Y.; LI, J. Advances in Diagnosis and Treatment of Perimenopausal Syndrome. Chinese Medical Journal, v. 136, n. 1, p. 1–9, 2023. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38152579/. DOI: 10.1097/CM9.0000000000002522. Acesso em: 28 maio 2025.
Leituras complementares
AVIS, N. E.; CRAWFORD, S. L. Menopausal symptoms across the transition: Differences by race/ethnicity. Current Opinion in Obstetrics and Gynecology, v. 33, n. 6, p. 469-475, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1097/GCO.0000000000000784. Acesso em: 28 maio 2025.
NORTH AMERICAN MENOPAUSE SOCIETY. The 2022 hormone therapy position statement. Menopause, v. 29, n. 7, p. 767-794, 2022. Disponível em: https://www.menopause.org/. Acesso em: 28 maio 2025.
Nota da Editora: Este artigo tem caráter informativo e não substitui o acompanhamento médico. Cada mulher vivencia o climatério de forma única, e sintomas semelhantes podem ter diferentes origens. Ao identificar alterações no corpo ou no humor, é fundamental procurar uma profissional de saúde para avaliação individualizada e orientações adequadas ao seu caso.